sexta-feira, 28 de outubro de 2011

mensagem III (com destino incerto)

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Quando chegaram ao lugar chamado Caveira, ali o crucificaram, a ele e também aos malfeitores, um à direita e outro à esquerda. E dizia Jesus:



-Pai, perdoa-lhes, porque não sabem o que fazem


...................................................................................................................................................................................Lucas 23, 34


augusto, um entre mil

6 comentários:

Lizzie disse...

(Para que não haja confusões, hoje chamo-vos)

Senhor Augusto:

as vossas alembraduras sempre me surpreendem pela inteligência nelas contida.

E eis-me aqui sentada sem saber se concordo ou não com o cruxificado.

(Enfim, aqui só para nós, talvez o culpado maior seja o Pai que não soube dar educação às criaturas que se lembrou de inventar num dia de baixo talento e foi tal o desaforo que agora as tais criaturas mandam no criador. Ninguém o mandou dar-lhes o Poder para brincar, porque foram -e são- poucos os que só brincaram com a Arte, p.ex.)

Mas não sei se quer os carrascos quer os malfeitores, à esquerda e à direita, não sabem o que fazem, porque não foram educados a distinguir o bem do mal, o justo do injusto por dificuldades de aprendizagem e falta de memória,

ou se por tanto incharem de mando e terem ganho todos os jogos sem virtude e com batota, estão conscientes de que assim é legítimo agirem.

Como hoje, por via de malfeitores de ambos os lados, estou diabólica de todo, se fosse Mãe não lhes perdoava coisa nenhuma: mandava-lhes uma praga de fome, de sede, de relento agreste, de sobressalto infinito.
Até que lhes doesse a existência.

Mas como vós sois mais de limpar o suor dos lúcidos com uma tolha fresca, aqui vos deixo os meus abençoados respeitos.

augusto, um entre mil disse...

Senhora,

não me parece estarmos em altura de gastar água para com ela refrescar os ditos. nem mesmo sei se a água nas toalhas chegará para refrescar o nosso próprio e anunciado suor.

quanto a vós, Senhora, qualquer Mãe pode sentir-se desiludida com seus filhos mas, a espereança, dizem, é sempre a última a morrer, talvez arrepiem caminho. no lo creo...

mas, mesmo sem esperança, agarremo-nos a ela como náufragos a uma palhinha e, talvez seja possível (quem sabe), volta e meia munirmo-nos de um pauzinho de fósforo e intruduzi-lo na engrenagem. não sei bem como, mas parece-me que isto não vai lá nem com fueiros de carro de bois quanto mais com palitos ou paus de fósforo.

porque não acredito em sonos bons conselheiros, desejo-vos, Senhora,com os meus respeitos, um sono repousado e sem sonhos, que me parecem ser os melhores para um bom descanso.

Lizzie disse...

Senhor,

ainda não me deitei e dou o tempo por bem empregue porque conheci e estive a trabalhar com pelo menos duas pessoas que, com o riso, o luto que é a ironia e pronuncia do Porto, têm uma colecção de palitos e fósforos (ainda são, como nós, do tempo em que se usavam fósforos Quinas)capazes de incendiar qualquer ego novo rico e mal educado.

Devo confessar-vos que a palhinha esperança é refúgio que já me cansa porque tem uma escada sem degraus que se chama espera.

Se me permitis, nas minhas andanças, nunca conheci outro país ou povo que tanto se alimentasse de esperança, que tanto esperasse um Sebastião eterno, que parado tanto sonhasse.

Senhor, mais úteis são os sonhos em movimento e é aí,talvez, que espanhóis sendo também ibéricos, são de portugueses tão diversos.

E sim senhor, a engrenagem é grande e poderosa. E apesar de ferrugenta vai resistindo e também não sei como se dará cabo dela porque o que vejo, com excepções, claro, é que a maioria sonha entrar no quarto de brinquedos do Poder, embora, colectivamente o negue, ou seja como ouvi ontem, "acho mal que o IVA suba, mas no café e no tabaco pode subir à vontade porque eu não bebo nem fumo" e outros espelhimos que tais.

Mas enfim, lá vou tentando alcançar a palhinha de salvação.
Como toda a gente.


Senhor, vou comer qualquer coisa, tomar um duche quente e depois talvez adormeça um bocadinho ao sol, deliciando-me com a dança das sombras das folhas na ingenuidade da parede caiada.

Agradecida pela vossa resposta, desta vigília vos envio os meus respeitos.

O Árabe disse...

Ficou muito bom, Augusto: integração perfeita entre o texto e a imagem. Meu abraço, bom resto de semana!

~pi disse...

belo, concordo com Árabe.
de certo medo, anexo-me à oração -


abraÇo







~

Justine disse...

A questão é que eles sabem muito bem o que fazem...

(deixei de ter indicação pelo Google Reader de novos posts teus - pensei que tinhas emigrado...e daí a minha ausência:))))
Abraço