sábado, 29 de setembro de 2012




...fazer de conta 

(para não ralar

aqueles

de quem gostamos)

que ainda acreditamos.


1 comentário:

Lizzie disse...

Senhor,

para não ralar nem matar as cores com que aqueles de quem gostamos defendem o futuro, escondemos a faceta do judeu errante, aquela figura solitária e mítica que atravessando campos e cidades, vê calado ou com voz virada para dentro, o infindável circo da natureza humana.

As crenças, Senhor, parecem-me cordas que identificam e ligam as pessoas umas às outras. Peças isoladas que se fazem corpo de olhos brilhantes.

Pode ser em Deus, em Marx,no Diabo, no Benfica ou simplesmente na leveza dos arredores das coisas. Por aí.

Dizem que a crença gera esperança e esta alimenta os sonhos.

Para não ralar ninguém, escondemos a fome, dizemos que emagrecemos pela idade, encolhemos os ombros, botamos a mochila às costas e partimos, deixando o corpo estacionado no mesmo sítio.

É coisa má porque ninguém é mais exigente com o caminho que o judeu errante e, coitado, de tão exigente pode cair num buraco para nunca mais ser visto. Se calhar.

Mas não interessa. Enquanto caminhamos pelos pedregulhos, enquanto somos obrigados aos absurdos da geografia, fazemos de conta que, entrando em casa, todo o peso do que não precebemos, se esfuma tal como se não existisse.

Fazemos de conta que cortamos a vida em duas fatias, a de fora e a de dentro.

E levamos sustento, talvez mesmo sem saber, aos sonhos dos que gostamos.

E talvez seja por isso que, adormecidos sentimos uns dedos a passar pelo cabelo, um beijo na testa e uma manta que nos cobre os ombros.

Sabemos lá se não é a vez daqueles de quem gostamos, porem a mochila às costas, partirem ficando no mesmo sítio. A fingirem descaradamente que ainda acreditam.

Sabemos lá, Senhor, sabemos lá...

os meus renovados e agradecidos respeitos.