quarta-feira, 8 de junho de 2011

visitante,
sei que por vezes é difícil ler posts longos. atendendo a isso não publiquei a parte final do artigo. faça um pequeno esforço e leia. vale a pena.
.
.

Somos menos, felizmente.


"O maior perigo que se põe actualmente à humanidade não é o da explosão nuclear, é o da explosão demográfica. Portugal tornou-se, porém (com a Europa), excepção.
O nosso País tem a taxa de fertilidade mais baixa do velho continente, continente onde ela entrou, nos últimos anos, em declínio acentuado. Felizmente.

Produto desvalorizado pelo excesso, o homem só deixará, como consequência, de ser um desperdício quando escassear; só quando os nascimentos forem actos desejados (por opção, por disponibilidade) ele atingirá o estatuto qualitativo a quem tem direito.

Políticos, economistas, comunicadores, ideólogos repetem, porém, que estamos a envelhecer, a escassear, e fazem disso catástrofe para ínvias manipulações.

As suas mentalidades formigueiras/coelheiras esquivam-se, no entanto, a dizer que o problema não é o de falta de gente nova no mundo (nasce um milhão de pessoas em cada 100 horas), mas o do seu desequilíbrio. Insistem mesmo em propagar que Portugal (a Europa) está em perigo, que no ano 2.020 doze por cento de nós terão mais de 65 anos; em divulgar a ideia de que um indivíduo (um país, um continente) que envelhece é um indivíduo (um país, um continente) que estiola; não cuidam de assumir que os velhos são cada vez menos velhos, que tão fiável é premir botões de máquinas aos 80 anos como aos 20, que a sabedoria, a perspicácia trazidas pela idade compensam a força, a destreza levadas por ela.

Não costuma ser, aliás, pelo facto de disporem de populações rejuvenescidas que os estados se desenvolvem mais; o número de habitantes de um país não se revela indicador de progresso.

“As florestas precedem as pessoas, os desertos acompanham–nas“, avisava Chateaubriand. O homem é um poluidor por condição: as hecatombes ocorridas são consequência da sua natalidade incontrolável, fomentada para haver cada vez mais mão de obra barata e farta, carne para canhões e camas, almas para pastorear e salvar.

Vamos ser, em 2100, apenas 6,7 milhões de portugueses (a mesma população de 1920), catastrofizam demógrafos. E daí?

Quererão mais jovens para somar aos que deambulam sem ocupação, sem saída, sem futuro? mais jovens a viver dos pais e avós (que no final da vida têm de subtrair às cada vez mais subtraídas pensões o seu sustento?); mais jovens para alargar o mercado dos prostitutos, dos delinquentes, dos drogados, dos excluídos? Não lhes chegam as centenas de crianças a dormir nas ruas de Lisboa? Não lhes bastam os mulhares de adolescentes a procurar, em vão, o primeiro emprego?
Líderes de opiniam inculcam, entrtanto, ideias segregacionistas entre as gerações. Insinuam que a culpa dos desequilíbrios pertence aos mais idosos por ocuparem lugares, monopolizarem privilégios, esgotarem recursos, bloqueando os mais novos. Lutas surdas larvam, na verdade, a vários níveis, instigadas por semelhantes correntes de opinião, não se revelando que a instabilidade afecta todos os estratos etários, que não são os séniores a barrar a ascenção dos jovens, mas os interesses instituídos que desarticulam uns e outros, hostilizam uns contra os outros por se haverem tornado todos prescindíveis.

(...)

Excerto, do artigo de Fernando Dacosta no nº 227 (Junho de 2011) da revista Tempo Livre.
.
.



3 comentários:

Justine disse...

Li o texto na revista a semana passada, e achei-o muito interessante. Não sei se concordo totalmente com o Dacosta, mas é um assunto de reflexão...

Humana disse...

sim, vale a pena ler este artigo; e, concordo, em grande parte, com este excerto.

abraço - finalmente, em férias!!!

ana disse...

"As florestas precedem as pessoas, os desertos acompanham–nas"...

para
pensar.